Saturday, March 08, 2008

The lows and the highs

Deitada no divã, não tinha muita certeza de que aquilo a ajudaria. Mas gostava. Gostava daquele ambiente, gostava de ter alguém esperando por suas palavras e captando cada uma delas numa seqüência perfeita. Alguém olhando para ela, prestando atenção em suas expressões e em seu jeito de gesticular. Lisa fazia consultas periódicas ao psicólogo, só para poder contar as coisas à sua maneira, poder falar o que quisesse e ter certeza de que seria ouvida e nunca interrompida. Lisa preferia a noite. Ela gostava de sair de seu apartamento para passear quando já tivessem aparecido algumas estrelas no céu, atravessar a esquina e comprar sorvetes ou dar dinheiro às ciganas ambulantes que insistiam por ler sua mão. E depois de fazer isso ela estremecia, pois sabia que seu dia havia acabado por ali e era hora de dormir. Mamãe sempre dissera "Lisa, já é hora de dormir". A hora de dormir. Se mamãe ao menos soubesse de tudo o que acontecia, ela jamais obrigaria Lisa a rezar ajoelhada para dormir. Agora, 21 anos mais madura e independente, não havia se convencido o suficiente de que o quarto escuro teria de ser seu refúgio. Quando pequena, Lisa tinha sonhos perturbadores em que demônios tentavam arrastá-la, e mesmo que ela tentasse evitá-los - tomando leite com mel antes de se deitar ou lendo livros na cama - eles voltavam todas as noites. Mas esses eram sonhos infantis dos quais Lisa sabia que não precisava mais temer, porque o que havia sonhado nos últimos anos fora muito mais preocupante. Sonhara com julgamentos onde ela era acusada, com multidões gritando seu nome em tom de total desaprovação, ex-amigos tentando salvá-la de buracos negros que a engoliam e pessoas de que ela não gostava mencionavam atos de injustiça que ela havia cometido ao longo dos anos. Depois de algumas horas deitada em silêncio naquele divã, Lisa nem precisou pedir ajuda ao Dr. Watson. A resposta apareceu como que sobrevoando ela, e desta vez ela não a deixou escapar. A única coisa que a salvaria, era o perdão. Ela tinha certeza. Era orgulhosa o suficiente para jamais retornar um telefonema ou demonstrar gestos de carinho, mas sabia que esta era uma última chance para tornar a deitar-se em paz, uma última chance para viver em harmonia. Ainda que estivesse no consultório e que o Dr. estivesse a observando, Lisa nem se importou. Ajoelhou-se ao lado do divã, como fazia quando era pequena - ao lado da cama -, e com os olhos fechados e a cabeça baixa, disse "Eu sei que não sou Sua favorita e nem sou tão bem vinda em Sua casa, mas preciso de perdão". Depois de muitos anos vivendo no inferno, acordada e assustada, Lisa conseguiu dormir em paz pela primeira vez.

"God won't talk to me
I guess He's pretty busy lately,
But I'd like to believe
He's listening..."

3 comments:

Clarissa said...

Essa coisa de perdão é difícil de entender. Parece que meus erros são grandes demais, que o perdão NÃO PODE ser assim, tão fácil.

Mas quando experimentamos dá uma sensação ótima, e parece que resolvemos todos os problemas do mundo ali, de joelhos.

É a melhor coisa do mundo, apesar de eu não ser capaz de entender.

Fernanda Milene said...

Lê...

Meu menina, sabia que tu era boa escritora...
Mais não imaginava nem metade de todo esse teu talento!!!

Parabéns blog lindooo!

Viciei!

Vou te visita sempre agora

bjuuuuus

Anonymous said...

... Pedir perdão é magico!
eu sei disso!

PS: lindo blog!