Saturday, February 16, 2008

Lisa's World


Já anoitecera na Cobbled's Street, subúrbio de Nova York. Os vizinhos acendiam as luzes das salas para assistirem ao jornal na TV, e com pizza e Coca Cola aconchegavam-se em suas poltronas. As crianças já haviam recolhido seus brinquedos do quintal, e do meio-fio onde Lisa estava sentada, ela podia ouvir as mães dizendo "Oh meu Deus, como você conseguiu se sujar deste modo?". Algumas pessoas faziam ligações dos telefones públicos e uma jovem espalhava cartazes sobre Franz Beckenbauer, seu cachorro desaparecido, oferencendo 80 dólares como recompensa para quem o encontrasse. Com os braços cruzados e um saco de cookies ao lado, Lisa observava as estrelas que iam aparecendo no céu a cada segundo...Eram milhares. Gostava de, vez ou outra, aconchegar-se naquela calçada - e em seus pensamentos - para fotografar a casa dos vizinhos, pedestres apressados, o infinito esplendor da noite e a chegada de Clark, seu marido. Clark era impressionante. Clark, era fantástico. Clark era o tipo de homem que toda mulher sonhava: romântico e atraente. Tão surpreendente que podia muito bem trazer uma torta holandesa - a preferida de Lisa - ou um anel de brilhantes da Tifanny's. Agora, o relógio já apontava 20: 46. Normalmente, neste horário Lisa já havia tirado fotos o suficiente, Clark já havia chegado e ambos estavam sentados no chão da sala jogando War ou Strip Poker. "Ele é tão surpreendentemente intrigante que não seria surpresa se um outro maravilhoso presente para mim justificasse seu atraso", pensou em voz alta. 21:17, Clark ainda não estava em casa. Lisa havia entrado para verificar a secretária eletrônica, "O trânsito deve estar congestionado", mas nenhum recado estava adicionado e não haviam ligações perdidas em seu celular. Alguns minutos mais tarde, Clark entrou em casa. Mal havia conseguido estacionar o carro e numa tentativa frustrada de colocá-lo na garagem, derrubara a placa do jardim que dizia "Aqui mora a felicidade". Lisa teve de ajudá-lo a tirar as calças e colocá-lo embaixo do chuveiro para um banho gelado. Estava completamente bêbado, e a camisa indicava sinais de traição. Marcas de batom, arranhões e o número de um celular desconhecido (para ela) no bolso da frente do terno, apenas tornavam práticas as lições teóricas que Lisa sempre escutara de sua mãe. Homens são todos iguais. Clark podia ser atraente, romântico, charmoso e sedutor, mas nada havia sido dito sobre fiel.

1 comment:

poeta quebrado said...

blood is love,
diria o queens of the stone age.

love is suicide,
diria o smashing pumpkins

amor próprio agora é suicídio,
diria o ludovic

love is watching someone die,
diria o death cab for cutie,
ela repetiria.

e eu continuo abrindo a mesma janela, acendendo um cigarro de marca diferente,
e sentindo merda nenhuma do que havia antes.