Sunday, January 27, 2008

Soulmate.

O dia estava escuro. Depois de sair do trabalho (e de mais um dia exaustivo mas muito compensador), Lisa resolveu parar para jantar em um restaurante próximo ao seu prédio. Sentou-se em uma mesa de canto, na janela, e enquanto observava o céu e as pessoas correndo para fugir da grande tempestade que vinha se fazendo, recordava os momentos dentro daquele hospital. Eram pessoas nascendo e morrendo, pessoas lutando pela vida, lutando para poderem dizer à seus filhos o que tinham que dizer até o seu último instante de vida, com ritmos diferentes e histórias completamente diferentes. Todos os casos eram realmente muito marcantes, mas um em particular chamou a atenção de Lisa naquela manhã. Uma senhora de uns 80 e poucos anos estava internada há 8 dias em um quarto com seu marido. A senhora desenvolvera uma doença fatal aos 79 anos e teria, no máximo, mais alguns meses de vida segundo a expectativa dos médicos. Incrivelmente, a mulher estava certa de que morreria naquela tarde. Seu marido, um senhor com espírito muito jovem, de 92 anos, adoecera poucos dias depois de a mulher ser internada com causas aparentemente desconhecidas. Quando Lisa entrou no quarto para consultá-los naquela manhã, ambos estavam sentados em suas camas e conversavam sobre suas vidas, relembrando o momento em que se conheceram.

- Pude perceber na mesma hora quem era você.
- Eu sei. Eu também.
- E você minha jovem, acredita em almas gêmeas?
Lisa não era do tipo de pessoa que se deixava levar facilmente por contos de fada. Ela sabia: eram muito bonitos em seus sonhos. Mas um relacionamento real exigia muito mais do que sonho.
- Hm...Não exatamente. Não sei como isso funciona ao certo, deve ser por isso que não acontece comigo. Prefiro não criar expectativas, tenho medo de que nunca aconteça comigo.
- Então você não sabe porque estou aqui? - perguntou o senhor, sorrindo.
- O senhor não estava passando muito bem, deve ficar em observação.
- Nada fica bem quando se está longe de sua alma gêmea. Você pode demorar um dia ou uma eternidade para encontrá-la, e até isso acontecer sua vida pode parecer boa e você pode se sentir completo, mas quando a tiver consigo jamais poderá perdê-la porque a insuficiência o fará adoecer. É maior do que tudo.

De alguma forma, Lisa gostou de saber daquilo. Naquela tarde o casal faleceu. Quando uma enfermeira novata do hospital entrou no quarto para medicá-los, estavam deitados em uma só cama, com as mãos dadas, e na parede atrás da cama estava escrito "Nós nos amamos com todo nosso coração e nossa alma, e para nós isso foi o suficiente."

A tempestade explodiu lá no céu. Jamais em toda sua vida Lisa havia visto coisa igual. O vento derrubou placas e a chuva varreu todos os guarda-chuvas. Pessoas corriam tentando se abrigar em lugares cobertos. De repente um homem entrou, encharcado, dentro do restaurante. Havia muitas mesas vazias, mas quando bateu os olhos em Lisa, ele não teve dúvida. Sentou-se em uma cadeira em frente à ela. Ela estava tão distraída que quando o viu não pôde evitar o susto.
Mas seus olhares se encontraram e se fitaram por um longo momento.
- Esta tempestade vai acabar com o que estiver pela frente.
- Pode ser - ele disse calmamente - mas eu vou estar aqui para te proteger.

Jamais em toda sua vida Lisa havia sentido coisa igual. Foi aí que ela entendeu. Almas gêmeas. E foi aí que ela entendeu também: só se teme o que se acredita.

4 comments:

Anonymous said...

Uma mistura de diário de uma paixão com os teus pensamentos ficam ainda melhor que o filme em si. Juro pra você que agora até me deu vontade de sair procurando a minha alma gêmea! hahaha. muito bom mesmo! ;* Le

Clarissa said...

Ai... a minha ainda não encontrei (eu acho).

Luiza Martins said...

posha; liiindo *-*
adoreei o blog, as coisas qe voce escreve
sao EMOCIONANTES ;#
-kospadpkaopdkopas

beijoz :*

poeta quebrado said...

a rotina na verdade é umonte de pedaços. mais ou menos assim, tipo não existe. ah, essa coisa de não existir, acredito muito. se isso me faz rotina, ela bem que me chateia. e segue.

já a indignação...