Wednesday, October 08, 2008

you gave me life now show me how to live

Eu tenho algumas lembranças do meu pai. Algumas não...um montão. A gente passava muito tempo juntos, antes de tudo, porque a gente sempre foi muito mais do que pai e filha. Na verdade, a gente sempre foi cúmplice. Meu pai sempre intuiu mais do que soube e me falou coisas que eu pude compreender. Não se precisa entender pra aceitar, quando se ama alguém...
Ele faz parte do meu caminho, é parte da minha vida, é a pessoa de quem eu mais vou sentir saudades quando for embora porque me ensinou o que é amor e me ensinou o que é sentir falta.

'Pai, eu não faço questão de ser tudo
só não quero e não vou ficar mudo
pra falar de amor pra você.
Pai, senta aqui que o jantar tá na mesa
fala um pouco, tua voz tá tão presa
nos ensina esse jogo da vida
cuja vida só paga pra ver.
Pai, me perdoa essa insegurança
é que eu não sou mais aquela criança
que um dia morrendo de medo
nos teus braços você fez segredo
nos teus laços você foi mais eu...'


Monday, September 01, 2008

é o que me interessa


...Assim que entrou na casa pôde perceber o quanto havia perdido. A majestosa e velha casa de seus pais era muito mais do que seu lar. Era quase como um túnel do tempo, regredindo ao passado. Eram lembranças, memórias, histórias, canções, balanços na rede e plantações de árvores por todo o quintal. E agora tudo aquilo era apenas...cinza. A mais vagabunda e pura, aquelas migalhas esfareladas por todos os lados. Depois que soube que a casa de seus pais fora incendiada, algumas horas antes, ficara em dúvida se devia ir correndo ao encontro de tudo aquilo ou fingir que simplesmente não havia acontecido. É verdade que seus pais não morassem lá há muito tempo, desde que partiram. Mas tudo deles estava ali. O cheiro, as cores, uma porção de retratos e diários. Ela realmente havia perdido muita coisa. Então resolveu que, dali para frente, não perderia mais nada: pegou um punhado da cinza do chão e guardou na bolsa. Talvez aquilo a fizesse lembrar de tudo o que havia vivido ali. Talvez a fizesse recomeçar, sem se esquecer da velha casa, de seus pais, daquela coisa toda. Talvez fosse uma maneira de se perdoar por todos aqueles anos de um esquecimento proposital, e uma chance de ser boa de novo.

- Meu conselho para todos aqueles que querem se encontrar, é continuarem bem onde estão, caso contrário é grande o risco de se perderem para sempre.

Saturday, July 05, 2008

Sentada no banco de trás do táxi, ela podia ver as coisas como nunca antes. Agora sim, estava tudo claro. Não tinha amigos, não tinha amores, agora seria ela por ela mesma. Podia ver as pessoas andando nas ruas, ocupadas com seus celulares, com suas agendas, pessoas passeando com seus cachorros e conversando umas com as outras. Definitivamente, estes problemas não eram mais seus. Não precisava se ocupar com seu celular - havia o jogado para fora do táxi há algumas quadras atrás. Detestava passear com seu cachorro. Não havia ninguém mais que quisesse ouví-la. Ela pensava "Tanto faz. Eu não me importo."
Mas se importava. Ah, como se importava. Se importava tanto que decidiu fugir. Abriu a janela e o vento desarrumou seus cabelos. Quem mais se importava? Ela não era mais vista. Passava então pelo Brooklyn, indicando estar longe de casa. Talvez agora pudesse respirar um pouco.

"I'm gonna tell you that I care
In the best way that I can.
There's gotta be a million reasons why it's true."

Wednesday, June 11, 2008

Drama Queen




Lisa era tão incrivelmente bonita e talentosa que desbancava qualquer garota de rosto bonitinho e corpo bronzeado. Era até mais do que apenas talentosa, em todo seu esplendor, era intensa. Quando namorava, era a namorada dos sonhos de qualquer cara. Jamais havia sequer levado um fora. Dedicava-se ao máximo à faculdade, tarefas, aulas extraclasse e qualquer coisa que exigisse um pouco da sua extensa capacidade de raciocinar. Ninguém conseguia tirar os olhos daquela garota. Era elegante, uma puta naturalmente elegante. Bebia, fumava e mesmo assim não deixava de atrair olhares e parecer inocente e delicada. Era incrível. Lisa era estrategista, sabia bem o que queria e conseguia manipular e chantagear para isso. Ela sabia como as coisas aconteceriam depois de cada palavra que pronunciasse. Não se sabe como...mas ela simplesmente sabia. Sabia como deixar um homem em profundo estado de êxtase. Sabia como orgulhar seus pais pelas tantas tarefas que conseguia executar com sucesso. Sabia como atrair olhares e, também sabia - e esta era a parte da qual ela mais gostava e menos temia - como ser invejada. Todas as garotas queriam ser Lisa. Lisa era a namorada que todo cara sonhava exibir para seus amigos. Lisa era uma princesa perfeita.


Mesmo assim, no mundo em que vivia, ela perfeitamente sabia quem era. Entre desejos, traições, ações e reações, ela era a rainha do drama.

Friday, June 06, 2008

Lie

De uns tempos pra cá, Tomas havia se tornado frio.
De repente, como do dia para a noite, Lisa estava sentindo isso. Não a olhava mais do modo que fazia e costumava ficar em silêncio quando estavam juntos. Como se...Como se sua cabeça estivesse em outro lugar. Ela sabia - algo tinha mudado. Ele podia fitá-la por um momento e então desviar sua atenção, mas mesmo assim, sua consciência não estava mais presente. Ele podia dizer à ela que não havia ninguém mais, mas ela sentia. Sentia falta do jeito como ele lhe parecia antes, e ele sabia sobre o que ela estava falando. O fato de se sentarem na calçada para observar o céu e até mesmo prepararem alguma nova receita na cozinha, juntos. Há algum tempo isso não acontecia mais, do jeito que era. Onde ele estivera? Podia sorrir e tentar fazer as coisas parecerem certas, mas ela não era tola. Era tarde demais. O romance inconstante que sempre lhe parecera muito excitante e profundo, de uma hora pra outra havia congelado. E ela sabia - nada mais podia ser feito. Não se tira da cabeça o que está no coração.
Tomas foi embora numa noite de quinta-feira, levando consigo seus problemas e fantasmas.
Deixou um bilhete colado na geladeira e nunca, nunca mais apareceu.

" Eu não a amo mais. Adeus."

Monday, May 05, 2008

Outro dia eu estava na loja de conveniência e quando saía para entrar no carro, notei que dois garotinhos de uma média de 8 e 12 anos pararam para me observar. Geralmente nessas situações eu costumo ficar confusa, porque não sei se estão olhando pra mim ou pras minhas sacolas. Mas naquela ocasião eu tive certeza que olhavam, com muita fome, os pacotes que eu trazia. Fui em direção deles que, imediatamente, recuaram, como cães amedrontados. A expressão é forte mas é real. Lhes ofereci uma grana pra comprar, quem sabe, pão e leite. Mas eles - muito educadamente, vale lembrar - recusaram, e disseram que não queriam encomodar. Eu falei "Tudo bem, podem aceitar. Eu não vou ficar pobre por causa de 10 reais.", e joguei o dinheiro no colo deles. Aí eu fui embora.
Pensando nisso, um tempo depois, eu me senti envergonhada. Realmente eu não ia ficar pobre por causa de 10 reais, mas nem eles enriqueceriam com isso. Provavelmente iriam se alimentar e esperar a próxima boa alma. Mas talvez não era disso que realmente precisassem.
Hoje, enquanto caminhava na rua, passei pela mesma loja de conveniência. Nem me lembrava mais do fato até encontrar com os dois garotos novamente. Eu acho que foi uma forma de Ele me perdoar por eu ver como estavam bem (a mãe carregava um no colo enquanto o pai segurava o outro pela mão) ou de Ele me punir por eu perceber o quanto eu podia ter feito naquele dia. Mas mesmo assim, fiquei feliz. Algo de bom aconteceu. A sorte deles finalmente mudou.

"Muitas são as aflições do justo,
mas o Senhor de todas o livra." Salmos 34.19

Monday, April 14, 2008

"Journeys end in lovers meeting."

Lisa havia passado muito tempo de sua vida procurando a felicidade. Primeiro, dividindo-se entre a faculdade, festas, drogas, bebidas e amigos. Depois veio o sexo sem compromisso. Aí o trabalho, dinheiro, um carro. Um apartamento. Uma casa na praia. A casa no campo e um cachorro. Um cavalo, um gato, um peixe. O consumismo, 2 bolsas por dia e 1 garrafa de whisky. As viagens - Inglaterra, Austrália, África. Passava o tempo em clínicas de terapia, tentando entender sua vida tão vazia (ou não). Spa's, casas de recuperação, psiquiatria, psicologia, uma vidente, clarividência e cartomancia. E também astrologia.
Foi numa loja de artigos budistas que o conheceu. Foi num restaurante japonês que se encontraram, quase sem querer, pela primeira vez - não fosse ela ter dito, na loja de artigos budistas, em tom meio alto, que "não tinha nada para fazer a noite, e com toda certeza jantaria no restaurante japonês da Rua de Fleur, em frente aos Artefatos Miching, sozinha."
De cara foram para a cama. Se descobriram. Eram perfeitos um para o outro. Cem por cento de compatibilidade.
E aí a procura terminou.

"As buscas terminam com o encontro dos apaixonados". - Shakespeare

Thursday, April 03, 2008

Welcome to my dreamland - where dreams come true!


Eu acredito em castelos, fadas-madrinhas e vestidos esplêndidos. Acredito em carruagens, amigos verdadeiros e príncipes. Acredito no amor real, em sonhos e o quão possíveis eles são de se tornar realidade. Acredito na força do pensamento, coroas e - infelizmente- em maçãs envenenadas, também. Mas além disso, acredito no único beijo de amor sincero que pode neutralizar o seu efeito maldoso. Eu acredito no fabuloso, no encantado e no mágico, e eu acredito em contos de fadas. E querem saber porque?

Porque eu vivo num deles.




"Este mundo é um milagre tão fantástico que, diante dele, a gente não sabe se ri ou se chora. Talvez as duas coisas ao mesmo tempo, o que não é nada fácil."

Saturday, March 08, 2008

The lows and the highs

Deitada no divã, não tinha muita certeza de que aquilo a ajudaria. Mas gostava. Gostava daquele ambiente, gostava de ter alguém esperando por suas palavras e captando cada uma delas numa seqüência perfeita. Alguém olhando para ela, prestando atenção em suas expressões e em seu jeito de gesticular. Lisa fazia consultas periódicas ao psicólogo, só para poder contar as coisas à sua maneira, poder falar o que quisesse e ter certeza de que seria ouvida e nunca interrompida. Lisa preferia a noite. Ela gostava de sair de seu apartamento para passear quando já tivessem aparecido algumas estrelas no céu, atravessar a esquina e comprar sorvetes ou dar dinheiro às ciganas ambulantes que insistiam por ler sua mão. E depois de fazer isso ela estremecia, pois sabia que seu dia havia acabado por ali e era hora de dormir. Mamãe sempre dissera "Lisa, já é hora de dormir". A hora de dormir. Se mamãe ao menos soubesse de tudo o que acontecia, ela jamais obrigaria Lisa a rezar ajoelhada para dormir. Agora, 21 anos mais madura e independente, não havia se convencido o suficiente de que o quarto escuro teria de ser seu refúgio. Quando pequena, Lisa tinha sonhos perturbadores em que demônios tentavam arrastá-la, e mesmo que ela tentasse evitá-los - tomando leite com mel antes de se deitar ou lendo livros na cama - eles voltavam todas as noites. Mas esses eram sonhos infantis dos quais Lisa sabia que não precisava mais temer, porque o que havia sonhado nos últimos anos fora muito mais preocupante. Sonhara com julgamentos onde ela era acusada, com multidões gritando seu nome em tom de total desaprovação, ex-amigos tentando salvá-la de buracos negros que a engoliam e pessoas de que ela não gostava mencionavam atos de injustiça que ela havia cometido ao longo dos anos. Depois de algumas horas deitada em silêncio naquele divã, Lisa nem precisou pedir ajuda ao Dr. Watson. A resposta apareceu como que sobrevoando ela, e desta vez ela não a deixou escapar. A única coisa que a salvaria, era o perdão. Ela tinha certeza. Era orgulhosa o suficiente para jamais retornar um telefonema ou demonstrar gestos de carinho, mas sabia que esta era uma última chance para tornar a deitar-se em paz, uma última chance para viver em harmonia. Ainda que estivesse no consultório e que o Dr. estivesse a observando, Lisa nem se importou. Ajoelhou-se ao lado do divã, como fazia quando era pequena - ao lado da cama -, e com os olhos fechados e a cabeça baixa, disse "Eu sei que não sou Sua favorita e nem sou tão bem vinda em Sua casa, mas preciso de perdão". Depois de muitos anos vivendo no inferno, acordada e assustada, Lisa conseguiu dormir em paz pela primeira vez.

"God won't talk to me
I guess He's pretty busy lately,
But I'd like to believe
He's listening..."

Saturday, February 16, 2008

Lisa's World


Já anoitecera na Cobbled's Street, subúrbio de Nova York. Os vizinhos acendiam as luzes das salas para assistirem ao jornal na TV, e com pizza e Coca Cola aconchegavam-se em suas poltronas. As crianças já haviam recolhido seus brinquedos do quintal, e do meio-fio onde Lisa estava sentada, ela podia ouvir as mães dizendo "Oh meu Deus, como você conseguiu se sujar deste modo?". Algumas pessoas faziam ligações dos telefones públicos e uma jovem espalhava cartazes sobre Franz Beckenbauer, seu cachorro desaparecido, oferencendo 80 dólares como recompensa para quem o encontrasse. Com os braços cruzados e um saco de cookies ao lado, Lisa observava as estrelas que iam aparecendo no céu a cada segundo...Eram milhares. Gostava de, vez ou outra, aconchegar-se naquela calçada - e em seus pensamentos - para fotografar a casa dos vizinhos, pedestres apressados, o infinito esplendor da noite e a chegada de Clark, seu marido. Clark era impressionante. Clark, era fantástico. Clark era o tipo de homem que toda mulher sonhava: romântico e atraente. Tão surpreendente que podia muito bem trazer uma torta holandesa - a preferida de Lisa - ou um anel de brilhantes da Tifanny's. Agora, o relógio já apontava 20: 46. Normalmente, neste horário Lisa já havia tirado fotos o suficiente, Clark já havia chegado e ambos estavam sentados no chão da sala jogando War ou Strip Poker. "Ele é tão surpreendentemente intrigante que não seria surpresa se um outro maravilhoso presente para mim justificasse seu atraso", pensou em voz alta. 21:17, Clark ainda não estava em casa. Lisa havia entrado para verificar a secretária eletrônica, "O trânsito deve estar congestionado", mas nenhum recado estava adicionado e não haviam ligações perdidas em seu celular. Alguns minutos mais tarde, Clark entrou em casa. Mal havia conseguido estacionar o carro e numa tentativa frustrada de colocá-lo na garagem, derrubara a placa do jardim que dizia "Aqui mora a felicidade". Lisa teve de ajudá-lo a tirar as calças e colocá-lo embaixo do chuveiro para um banho gelado. Estava completamente bêbado, e a camisa indicava sinais de traição. Marcas de batom, arranhões e o número de um celular desconhecido (para ela) no bolso da frente do terno, apenas tornavam práticas as lições teóricas que Lisa sempre escutara de sua mãe. Homens são todos iguais. Clark podia ser atraente, romântico, charmoso e sedutor, mas nada havia sido dito sobre fiel.

Wednesday, February 13, 2008

Você acalmou as tempestades
Sussurou para mim, e me envolveu em seus braços
Você trouxe luz para o meu dia
e sentido para a minha vida
argumento para as minhas teorias
e benignidade às minhas mãos.
Agiu como um ladrão, sem sequer um pré-aviso
roubou meu coração
entrou no meu destino
e mudou o meu caminho
Tirou meu fôlego e me fez suspirar
E eu farei o que tiver que fazer para ter você comigo,
Eu cuidarei de nós dois, juntos
Você deve amar a si mesmo para amar um pouco de mim.
Então me deixe sentir mais uma vez o que é realmente sentir
Sentar ao lado da porta dos Céus e ouvir você respirando
Porque eu estou me segurando em toda palavra que você diz...

Sunday, January 27, 2008

Soulmate.

O dia estava escuro. Depois de sair do trabalho (e de mais um dia exaustivo mas muito compensador), Lisa resolveu parar para jantar em um restaurante próximo ao seu prédio. Sentou-se em uma mesa de canto, na janela, e enquanto observava o céu e as pessoas correndo para fugir da grande tempestade que vinha se fazendo, recordava os momentos dentro daquele hospital. Eram pessoas nascendo e morrendo, pessoas lutando pela vida, lutando para poderem dizer à seus filhos o que tinham que dizer até o seu último instante de vida, com ritmos diferentes e histórias completamente diferentes. Todos os casos eram realmente muito marcantes, mas um em particular chamou a atenção de Lisa naquela manhã. Uma senhora de uns 80 e poucos anos estava internada há 8 dias em um quarto com seu marido. A senhora desenvolvera uma doença fatal aos 79 anos e teria, no máximo, mais alguns meses de vida segundo a expectativa dos médicos. Incrivelmente, a mulher estava certa de que morreria naquela tarde. Seu marido, um senhor com espírito muito jovem, de 92 anos, adoecera poucos dias depois de a mulher ser internada com causas aparentemente desconhecidas. Quando Lisa entrou no quarto para consultá-los naquela manhã, ambos estavam sentados em suas camas e conversavam sobre suas vidas, relembrando o momento em que se conheceram.

- Pude perceber na mesma hora quem era você.
- Eu sei. Eu também.
- E você minha jovem, acredita em almas gêmeas?
Lisa não era do tipo de pessoa que se deixava levar facilmente por contos de fada. Ela sabia: eram muito bonitos em seus sonhos. Mas um relacionamento real exigia muito mais do que sonho.
- Hm...Não exatamente. Não sei como isso funciona ao certo, deve ser por isso que não acontece comigo. Prefiro não criar expectativas, tenho medo de que nunca aconteça comigo.
- Então você não sabe porque estou aqui? - perguntou o senhor, sorrindo.
- O senhor não estava passando muito bem, deve ficar em observação.
- Nada fica bem quando se está longe de sua alma gêmea. Você pode demorar um dia ou uma eternidade para encontrá-la, e até isso acontecer sua vida pode parecer boa e você pode se sentir completo, mas quando a tiver consigo jamais poderá perdê-la porque a insuficiência o fará adoecer. É maior do que tudo.

De alguma forma, Lisa gostou de saber daquilo. Naquela tarde o casal faleceu. Quando uma enfermeira novata do hospital entrou no quarto para medicá-los, estavam deitados em uma só cama, com as mãos dadas, e na parede atrás da cama estava escrito "Nós nos amamos com todo nosso coração e nossa alma, e para nós isso foi o suficiente."

A tempestade explodiu lá no céu. Jamais em toda sua vida Lisa havia visto coisa igual. O vento derrubou placas e a chuva varreu todos os guarda-chuvas. Pessoas corriam tentando se abrigar em lugares cobertos. De repente um homem entrou, encharcado, dentro do restaurante. Havia muitas mesas vazias, mas quando bateu os olhos em Lisa, ele não teve dúvida. Sentou-se em uma cadeira em frente à ela. Ela estava tão distraída que quando o viu não pôde evitar o susto.
Mas seus olhares se encontraram e se fitaram por um longo momento.
- Esta tempestade vai acabar com o que estiver pela frente.
- Pode ser - ele disse calmamente - mas eu vou estar aqui para te proteger.

Jamais em toda sua vida Lisa havia sentido coisa igual. Foi aí que ela entendeu. Almas gêmeas. E foi aí que ela entendeu também: só se teme o que se acredita.

Friday, January 18, 2008

Romans 8:1

Agora eu entendo essa coisa toda de 'morrer pra mim mesmo'. Só o que eu ainda não entendi, foi essa temática do amor incondicional. A paciência e a bondade, a gentileza. Acho que não somos dignos do amor dele, e relutamos em mostrar nossos valores. Somos os seres mais nobres somente à presença do horror. É por isso que estou aprendendo a respirar, e entendendo que somente ele pode interromper minha queda. Eu estou vivendo de novo, acordada e viva. Essa é a única maneira que encontrei para dizer que preciso de Você, esse é o jeito que eu digo que te amo e que eu estou morrendo para poder respirar nesses céus abundantes.

"Hello, good morning, how you doin'?
what makes your risin' sun so new?
I could use a fresh beginning too, all of my regrets are nothing new."

Saturday, January 05, 2008

Have you fallen in a black hole?


A garota sentou-se na cama para conversar com a mãe.

Silêncio. As duas se olharam, querendo muito evitar aquela situação, e então a mãe fez a pergunta que não queria calar:

- Então minha filha, como foi?

Desviando fitar a mãe, mexeu na blusa, ajeitou os cabelos e depois de um longo suspiro resolveu entregar tudo:

- Foi bom. No começo eu estava nervosa, mas ele me acalmou. Eu prendi o cabelo e a respiração e aí já não tinha mais volta. Você tinha que ver, mãe, o olhar dele ficou vidrado em mim. Eu até avisei com antecedência que poderia não ser boa, pela falta de experiência, mas ele me disse para relaxar e fazer do meu jeito. Até me pediu pra repetir! Colocou uma música e quando a música acabou, disse que estava satisfeitíssimo.

- Mas meu amor...

- Eu sei mãe, eu já sei.

- Temos de contar isso para o seu pai.

- Não, mãe! Por favor, o papai não.

O oxigênio da sala pareceu ser comprimido.

20 minutos depois, as malas estavam prontas. O Sr. Antônio, pai de Isabela, jamais a perdoaria quando soubesse que a filha tinha participado de um concurso de balé e ainda havia sido escolhida pelo produtor de dança clássica mais famoso da região para dançar em uma apresentação internacional. Ele sonhava que a filha - caçula - seria como as outras, dona de casa e volta e meia ajudaria na pequena barraca que tinham no Mercado Municipal. Mas balé era o fim. Balé, jamais. Para o Sr. Antônio, pai de Isabela, bailarina era como prostituta: ganhando dinheiro através do prazer do corpo.