
Inevitávelmente, estava apaixonada. Pela milésima vez na sua vida, novamente, sentia borboletas no estômago e pensava "desta vez vai ser diferente". O problema não eram os homens, era ela mesma. A qualquer movimento errado de seu amor, afastava-se e como se um encanto tivesse sido quebrado, desapaixonava-se. Pela milésima vez na sua vida, novamente, todas as borboletas desapareciam e pensava "Não foi desta vez".Já estava tão acostumada com esse entra-e-sai em sua vida que nem reparou quando ele cometera uma gafe. Um erro na hora de impressioná-la: havia comprado flores. Ela tinha o avisado, dias antes, que era alérgica as tais flores. Mas e agora? As borboletas continuavam ali (e as flores também). Ao invés de arremessá-las violentamente na cara dele - como fizera com os outros -, apenas agradecera e colocara as tulipas em um canto menos visível de seu apartamento.Depois veio o erro na hora de dividir a conta do restaurante caríssimo (mas ela nem se importou - ou não havia notado - porque decidiu pagar a maior parte), o erro na escolha de roupas (sapatos bicolores? S.O.S) e tantos outros momentos atrapalhados/constrangedores que ela vinha passando ao lado dele. Mas Marmalade era só graça. Achava graça em tudo que ele fazia, em tudo que passavam juntos. Das vezes que deitaram no meio da rua deserta à noite para contar as estrelas até as que, numa tentativa desesperada de construir um jantar, enfiaram todos os ingredientes dentro de um liqüidificador e depois o beberam como se fosse um ponche de champignon e almôndegas (há quem goste), Marmalade sentia-se feliz. Como nunca antes. Pela primeira vez em sua vida, estava sendo diferente. Aí se surpreendeu: Remy arrumou suas malas com umas três ou quatro mudas de roupa, spray de cabelo, seus oito pares de sapatos (todos bicolores, S.O.S) e bateu em sua porta em uma manhã gelada de domingo, avisando que agora não precisariam mais se esconder porque Trisha, sua mulher e mãe de seus filhos, havia descoberto a traição. Marmalade fechara os olhos, desejando não ter ouvido aquelas palavras. "Trisha havia descoberto a traição. Não precisariam mais se esconder."Abriu os olhos. Ele continuava parado à porta, esperando (quem sabe) um convite para entrar em sua casa e definitivamente em sua vida. Como as tantas outras vezes, fechou a porta. Fechou a porta para Remy, para as borboletas de seu estômago e para aquela história. Caso encerrado. "Ora essa", pensou com um ar de indignação. De todas as coisas que julgava serem ruins no mundo, a que ela não admitia era o fato de parecer necessária para alguém.
"Ando por aí querendo te encontrar...
em cada esquina, paro, em cada olhar
deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
que o nosso amor pra sempre viva, minha dádiva..."


4 comments:
É, realmente quando nos envolvemos e parece que tudo vaidar certo, a rasteira vem na hora que menos esperamos.
Enfim, e ser necessário a alguém é um saco, perde toda a graça.
* Você comentou no meu blog a mil anos atrás, mas só vi hj o comentário...
=D
ele tira um giz do bolso e desenha flor morta na porta.
ele sabe que vai pra casa
que nunca foi casa.
e agora sabe também que nem há.
malabarista, evita o gosto das lágrimas.
nunca se sabe quando a língua enxerga ódio.
Noooossa... estou começando a achar que eu tenho os mesmos problemas que ela! Justo num dia em que fiz uma coisa parecida... Talvez isso seja um sinal!
Ok, Deus, vou tentar ser mais esperta. E menos crítica também.
[coloquei seu blog na lista de links]
=***
Noooossa... estou começando a achar que eu tenho os mesmos problemas que ela! Justo num dia em que fiz uma coisa parecida... Talvez isso seja um sinal!
Ok, Deus, vou tentar ser mais esperta. E menos crítica também.
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