O dia estava escuro. Depois de sair do trabalho (e de mais um dia exaustivo mas muito compensador), Lisa resolveu parar para jantar em um restaurante próximo ao seu prédio. Sentou-se em uma mesa de canto, na janela, e enquanto observava o céu e as pessoas correndo para fugir da grande tempestade que vinha se fazendo, recordava os momentos dentro daquele hospital. Eram pessoas nascendo e morrendo, pessoas lutando pela vida, lutando para poderem dizer à seus filhos o que tinham que dizer até o seu último instante de vida, com ritmos diferentes e histórias completamente diferentes. Todos os casos eram realmente muito marcantes, mas um em particular chamou a atenção de Lisa naquela manhã. Uma senhora de uns 80 e poucos anos estava internada há 8 dias em um quarto com seu marido. A senhora desenvolvera uma doença fatal aos 79 anos e teria, no máximo, mais alguns meses de vida segundo a expectativa dos médicos. Incrivelmente, a mulher estava certa de que morreria naquela tarde. Seu marido, um senhor com espírito muito jovem, de 92 anos, adoecera poucos dias depois de a mulher ser internada com causas aparentemente desconhecidas. Quando Lisa entrou no quarto para consultá-los naquela manhã, ambos estavam sentados em suas camas e conversavam sobre suas vidas, relembrando o momento em que se conheceram.
- Pude perceber na mesma hora quem era você.
- Eu sei. Eu também.
- E você minha jovem, acredita em almas gêmeas?
Lisa não era do tipo de pessoa que se deixava levar facilmente por contos de fada. Ela sabia: eram muito bonitos em seus sonhos. Mas um relacionamento real exigia muito mais do que sonho.
- Hm...Não exatamente. Não sei como isso funciona ao certo, deve ser por isso que não acontece comigo. Prefiro não criar expectativas, tenho medo de que nunca aconteça comigo.
- Então você não sabe porque estou aqui? - perguntou o senhor, sorrindo.
- O senhor não estava passando muito bem, deve ficar em observação.
- Nada fica bem quando se está longe de sua alma gêmea. Você pode demorar um dia ou uma eternidade para encontrá-la, e até isso acontecer sua vida pode parecer boa e você pode se sentir completo, mas quando a tiver consigo jamais poderá perdê-la porque a insuficiência o fará adoecer. É maior do que tudo.
De alguma forma, Lisa gostou de saber daquilo. Naquela tarde o casal faleceu. Quando uma enfermeira novata do hospital entrou no quarto para medicá-los, estavam deitados em uma só cama, com as mãos dadas, e na parede atrás da cama estava escrito "Nós nos amamos com todo nosso coração e nossa alma, e para nós isso foi o suficiente."
A tempestade explodiu lá no céu. Jamais em toda sua vida Lisa havia visto coisa igual. O vento derrubou placas e a chuva varreu todos os guarda-chuvas. Pessoas corriam tentando se abrigar em lugares cobertos. De repente um homem entrou, encharcado, dentro do restaurante. Havia muitas mesas vazias, mas quando bateu os olhos em Lisa, ele não teve dúvida. Sentou-se em uma cadeira em frente à ela. Ela estava tão distraída que quando o viu não pôde evitar o susto.
Mas seus olhares se encontraram e se fitaram por um longo momento.
- Esta tempestade vai acabar com o que estiver pela frente.
- Pode ser - ele disse calmamente - mas eu vou estar aqui para te proteger.
Jamais em toda sua vida Lisa havia sentido coisa igual. Foi aí que ela entendeu. Almas gêmeas. E foi aí que ela entendeu também: só se teme o que se acredita.
Sunday, January 27, 2008
Friday, January 18, 2008
Romans 8:1
Agora eu entendo essa coisa toda de 'morrer pra mim mesmo'. Só o que eu ainda não entendi, foi essa temática do amor incondicional. A paciência e a bondade, a gentileza. Acho que não somos dignos do amor dele, e relutamos em mostrar nossos valores. Somos os seres mais nobres somente à presença do horror. É por isso que estou aprendendo a respirar, e entendendo que somente ele pode interromper minha queda. Eu estou vivendo de novo, acordada e viva. Essa é a única maneira que encontrei para dizer que preciso de Você, esse é o jeito que eu digo que te amo e que eu estou morrendo para poder respirar nesses céus abundantes.
"Hello, good morning, how you doin'?
what makes your risin' sun so new?
I could use a fresh beginning too, all of my regrets are nothing new."
"Hello, good morning, how you doin'?
what makes your risin' sun so new?
I could use a fresh beginning too, all of my regrets are nothing new."
Saturday, January 05, 2008
Have you fallen in a black hole?

A garota sentou-se na cama para conversar com a mãe.
Silêncio. As duas se olharam, querendo muito evitar aquela situação, e então a mãe fez a pergunta que não queria calar:
- Então minha filha, como foi?
Desviando fitar a mãe, mexeu na blusa, ajeitou os cabelos e depois de um longo suspiro resolveu entregar tudo:
- Foi bom. No começo eu estava nervosa, mas ele me acalmou. Eu prendi o cabelo e a respiração e aí já não tinha mais volta. Você tinha que ver, mãe, o olhar dele ficou vidrado em mim. Eu até avisei com antecedência que poderia não ser boa, pela falta de experiência, mas ele me disse para relaxar e fazer do meu jeito. Até me pediu pra repetir! Colocou uma música e quando a música acabou, disse que estava satisfeitíssimo.
- Mas meu amor...
- Eu sei mãe, eu já sei.
- Temos de contar isso para o seu pai.
- Não, mãe! Por favor, o papai não.
O oxigênio da sala pareceu ser comprimido.
20 minutos depois, as malas estavam prontas. O Sr. Antônio, pai de Isabela, jamais a perdoaria quando soubesse que a filha tinha participado de um concurso de balé e ainda havia sido escolhida pelo produtor de dança clássica mais famoso da região para dançar em uma apresentação internacional. Ele sonhava que a filha - caçula - seria como as outras, dona de casa e volta e meia ajudaria na pequena barraca que tinham no Mercado Municipal. Mas balé era o fim. Balé, jamais. Para o Sr. Antônio, pai de Isabela, bailarina era como prostituta: ganhando dinheiro através do prazer do corpo.
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