Thursday, May 31, 2007

A hurt in heart

Lá por Maio daquele mesmo ano, ele já estava muito mal. Fase terminal. As surras que ela geralmente tomava de dois em dois meses, tornaram-se diárias. Mas ela esperava pacientemente pela surra na dispensa pela manhã, os tapas no rosto que levava entre o meio dia e as duas da tarde. Depois, preparava-se para a grande surra da noite, em seu quarto. Não chorava e não fugia.
"Você é uma desgraçada" - era o que mais ouvia. Mas preferia se convencer de que tudo aquilo devia-se a uma fase ruim de sua vida que custava a passar.
"E sabe do que? Você é uma vadia. Tire agora essas roupas, esse batom. Vá para a rua ganhar seu dinheiro vagabunda, MAS ANTES VENHA AQUI QUE EU VOU TE DAR UMA SUR..."
Assim passava seus dias. Seu conformismo não era em vão, ah, não.
"Eu nunca amei você"
"Eu sempre te amei, desde o início. Você nunca me amou?"
"Nunca, nunquinha. Só gosto de você quando me deixa bater com toda minha força contra seu rosto. Me faz sentir bem."
"Se isso te deixa feliz, então." - sorriu.

Afinal: será que amar é mesmo tudo?

Friday, May 18, 2007

Você supõe o céu


- Tudo que começa, termina. Tudo tem um fim.

Olhando para a professora, até parece que aquilo a convenceria. Só não ergueu a mão e questionou porque sabia que não tinha jeito: razão nada tem a ver com as coisas do coração.

Ficou em silêncio e pela primeira vez na vida, conseguiu pensar sem arrependimentos ou receios. O sinal tocou. Saiu da sala respirando pela primeira vez novos ares.

"Talvez agora eu tenha aprendido", pensou ela. Sabia que algo novo estava para acontecer. Estava em paz.

Mas foi só outro relance de ilusão: quando o viu pela segunda vez, lendo jornal, na fila do pão, retomou a palidez. Pelo menos agora estava convencida de que poderia o perder de novo - pela segunda vez, porém não sem agonia, suportaria.



"Põe mais um na mesa de jantar, porque hoje eu vou pra aí te ver. E tira o som dessa tevê pra gente conversar"

Tuesday, May 15, 2007

(Des)organização

Por incrível que pareça, Martina sempre gostou da desorganização e portanto: da falta de rotinas. Acordava. Ora cedo, ora tarde. Levantava ou não (dependendo de sua vontade). Se não, ligava a tevê e assistia por vezes desenho, por vezes filmes. Se levantava, preparava panquecas ou rosquinhas - dependendo da temperatura do dia, o que ela acreditava ter tudo a ver com o cardápio diário.
Tinha dias que resolvia ser bailarina, pintora, escritora, professora e jardineira. Nos outros resolvia ser empresária, advogada, e também, ser nada.
Nos dias que ela tinha vontade de viajar, pegava o carro e saía. Pegava avião, navio, camelo (pro deserto) e chegava onde queria.
Sempre fizera tudo conforme sua vontade. E sua vontade era bem danada.
A única coisa que ela mantinha sob rotina, era o Amor por Armando.
Um dia encontraram-a a morta, com um bilhete ao lado:
"Acredito que a vida possa ser rotineira, mas principalmente, que o coração nunca deixa de ser."