
7:00 hr. O relógio despertou como havia programado. Acordou com facilidade, sentou-se na cama, olhou para as paredes. Para o lado da cama vazio. Gostava daquilo, de estar sozinha assim e por fim não ter lá muitas preocupações.
Requentou um resto de pizza, ouviu algumas muitas vezes o mesmo disco, e por fim ligou a tevê.
Ficou esperando o telefone tocar, como de costume. Era seu namorado de outra cidade. Ligava todas as manhãs, ao meio dia, a tarde e a noite. Ela não gostava disso. Essa sua importância lhe dava nojo.
Aquele dia foi diferente. O telefone não tocou. Almoçou no barzinho ao lado do prédio e entrou no apartamento 10 minutos antes da costumeira ligação do meio dia. O telefone não tocou. Saiu, tomou banho de mar, sorvete, voltou para o sofá em casa e esperou o telefonema da tarde. O telefone não tocou. A noite, saiu para o teatro e comeu tomates secos na beira da esquina. Entrou no apartamento: nenhuma ligação perdida.
Pela primeira vez em toda a sua vida sentiu falta de alguém. Sentiu borboletas no estômago, os olhos miudinhos se enxeram de lágrimas e (re)descobriu o amor.
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"Tem coisas lá em casa que eu nem ligo mais, pra não ter que desligar.
Pessoas da minha vida parecem sumir, mas insistem em voltar.
Amores requentados, feito pão dormido, vem do microondas.
E o bom e velho gosto de romance antigo é sempre bom de recordar.
(...)
Eu nunca esperei encontrar com você nesse lugar!
O que você tem feito? Como vão seus pais? Vamos sair para jantar!
O que eu tô dizendo? Eu não acredito! Olha o microondas.
Desse jeito, requentando, eu sei que não existe nada pra descongelar."




